O QUE FAZ DE HARRY POTTER UM HERÓI
UNIVERSAL?
Os
detalhes da vida de Harry são bem conhecidos por seus fãs. Alguns deles chegaram mesmo a
deduzir certas informações que J. K.. Rowling não oferece, como o ano de
nascimento de Harry. Quando nasceu Harry Potter? Alguns fãs dizem que foi em
1980, calculando a partir do 500º aniversário de morte de Nick Sem-Cabeça, em A
Câmara. Nick morreu em 1492. Dessa forma, A Câmara se passaria em 1992. Harry
tem doze anos nessa ocasião. Apesar de alguns pequenos detalhes no livro
contradizerem essa conclusão, ainda é um bom palpite.
PARA CONTINUAR LENDO
CLIQUE EM MAIS INFORMAÇÕES:
O QUE FAZ DE HARRY POTTER UM HERÓI UNIVERSAL?
Os detalhes da vida de Harry são bem conhecidos por seus fãs. Alguns deles chegaram mesmo a deduzir certas informações que J. K.. Rowling não oferece, como o ano de nascimento de Harry. Quando nasceu Harry Potter? Alguns fãs dizem que foi em 1980, calculando a partir do 500º aniversário de morte de Nick Sem-Cabeça, em A Câmara. Nick morreu em 1492. Dessa forma, A Câmara se passaria em 1992. Harry tem doze anos nessa ocasião. Apesar de alguns pequenos detalhes no livro contradizerem essa conclusão, ainda é um bom palpite.
Harry, o herói
Mas, se conseguimos entender profundamente o personagem de Harry
Potter, isso não se
deve somente aos fatos. Harry, apesar de suas qualidade únicas, é um herói que
nos parece bastante familiar. Desde o comecinho de A Pedra ele já
aparece como um príncipe perdido ou um rei oculto – assim como
Édipo, Moisés, o Rei Artur e inúmeros outros de todas as culturas. Ele nunca
soube que era um bruxo – nem mesmo sabia que existia o mundo mágico – antes de
receber a carta chamando-o para Hogwarts.
Para torná-lo ainda mais familiar a todos nós, ele é, pelo menos de acordo
com os estranhos padrões dos Dursley, um patinho feio. Assim, eles o
maltratam, como Cinderela foi maltratada, aprisionando-o num mundo
totalmente alheio ao seu, forçando-o a dormir debaixo das escadas quando uma
cama com dossel está à sua espera em Hogwarts, e alimentando-o de restos, o que
o faz ficar espantado com a abundância dos banquetes de Hogwarts.
Como Harry
vê a si
mesmo
Apesar de a entrada para o mundo dos bruxos
oferecer a Harry, de imediato, o reconhecimento que ele tão desesperadamente deseja –
todo mundo que ele encontra já ouviu falar no grande Harry Potter – ele ainda
sente dúvidas, e muitas. A cicatriz brilhante não foi a única marca deixada por
Voldemort. No fundo de sua consciência, ele guarda recordações daquela luta.
Alguma coisa da psique de Voldemort conseguiu penetrar em Harry. E ele se
preocupa com a dúvida em que ficou o Chapéu Seletor em A Pedra : ele
pertence à Casa Grifinória, com as virtudes que isso implica, ou será de
Sonserina, suscetível ao Mal?
Linhagem
A mãe de Harry, apesar de ser uma bruxa poderosa, nasceu trouxa. Para
aqueles que dão importância à linhagem, como Draco Malfoy, Harry é um bruxo
inferior. Mas, de alguma maneira, parece justamente que Harry é ainda mais
forte justamente por também ter sangue de trouxa.
De fato, suas conversas com Draco fazem eco a um incidente na infância de um outro grande
mago britânico, Merlim, contado pelo antigo historiador Geoffrey of Monmouth: Uma súbita discussão irrompeu entre os dois
colegas, cujos nomes eram Merlim e Dinabutius. Em meio à troca de palavras,
Dinabutius disse a Merlim: “Por que você tenta competir comigo, seu idiota?
Como pode pretender que suas habilidades estejam à altura das minhas? Tenho
sangue nobre em ambos os lados da minha ascendência. Já você, ninguém sabe quem
é, já que nunca teve um pai!”.
Mas o adversário de Merlim, assim como Draco Malfoy, estava predisposto a
equívocos causados pelo próprio orgulho. Seu rompante atraiu a atenção dos
mensageiros do Rei Vortigern, que haviam justamente sido instruídos a encontrar
um garoto sem pai. Foi assim que o jovem Merlim foi levado à presença do rei, e
então iniciou sua carreira.
Harry com
mil caras
As aventuras de Harry também seguem um padrão que nos
parece sempre familiar. O estudioso Joseph Campbell escreveu um longo trabalho
sobre o herói das mil caras, um personagem comum e central em diversas
culturas por todo o mundo.
De Ulisses, na Grécia Antiga, a Luke Skywalker, de Guerra nas
Estrelas, esses heróis e suas lendas guardam uma intrigante similaridade.
Contando com Harry, são mil e uma caras.
Campbell resume tais histórias da seguinte maneira: “Um herói se arrisca a deixar o mundo
cotidiano e penetra numa região do sobrenatural e do fantasioso. Forças
miraculosas estão à sua espera, e ele alcança um triunfo decisivo. O herói
retorna de sua misteriosa aventura dotado agora do poder de auxiliar seus
semelhantes humanos”.
A jornada do herói segue três etapas, que
Campbell nomeia de Partida, Iniciação e Retorno. Entre essas
etapas há pontos em comum com as aventuras de Harry. Uma olhada rápida nos
livros revela a constância desse padrão:
I. Partida
O herói é chamado a aventura. De
acordo com Campbell, o herói é primeiramente visto no mundo cotidiano. Ele está iniciando uma nova etapa
em sua vida. Um mensageiro pode ser enviado para anunciar o destino que chama
pelo herói.
O início de A Pedra se encaixa bem nesta descrição.
Harry está sofrendo horrores em sua convivência com os Dursley quando descobre
que há um lugar à sua espera em Hogwarts. Como os Dursley interceptam as
primeiras cartas, Hagrid vem pegá-lo. Harry
continua a passar as férias com os Dursley e, portanto, os livros seguintes começam
novamente com Harry no mundo cotidiano.
O herói pode rejeitar o chamado da aventura. Ele pode
ter inúmeras razões para tanto, desde as suas responsabilidades diárias até o
egoísmo — ele não quer se dedicar a ajudar os outros. No entanto, por mais que
resista, vai acabar descobrindo que não tem escolha a não ser seguir em frente.
Embora Harry não percorra essa etapa em A Pedra , vai
fazer isso nos livros seguintes.
Em A Câmara, ele fica perturbado com a
atenção dos outros, provocada por sua aventura anterior, e busca o anonimato.
Mas seu caráter corajoso torna impossível para ele ignorar as misteriosas
ocorrências – que, como manda o destino, têm Harry como alvo. Em O Cálice, mesmo tendo decidido não enganar o Cálice de Fogo para participar
do Torneio Tribruxo, ele o escolhe da mesma forma.
O herói encontra um protetor, um guia, que lhe
oferece uma ajuda através de poderes sobrenaturais, freqüentemente sob a forma
de amuletos.
Aí está
algo que vive acontecendo. Em
A Pedra , Hagrid é mostrado como um dos
protetores de Harry desde o nascimento do garoto. Ele foi o bruxo que levou
Harry aos Dursley ainda bebê. Posteriormente, eles se reencontram, quando Harry
está indo para Hogwarts. Eles visitam o Beco Diagonal, onde Hagrid cuida que
Harry compre uma varinha mágica e outros acessórios de bruxos. Como presente de
aniversário, Hagrid lhe dá uma coruja, Edwiges.
Do mesmo modo, Dumbledore
tem sido um protetor e um guia de Harry. Em A
Pedra, ele dá a Harry a capa da invisibilidade. Em Azkaban, Harry
descobre que Sirius vinha protegendo-o.
O herói encontra a primeira entrada para o novo
mundo. O protetor pode apenas levar o herói até a entrada, ele deve
atravessá-la sozinho. O herói pode ter de lutar, inicialmente, com um guardião
da entrada que está ali para impedi-lo de atravessá-la, ou superá-lo pela
astúcia.
O clímax de cada uma das aventuras de Harry começa
com a travessia solitária de uma entrada. Em A Pedra,
Rony pode ajudá-lo a definir quais são os movimentos a serem dados no xadrez e
Hermione auxilia-o a descobrir as poções que o ajudarão a atravessar as chamas
negras. Mas somente Harry pode entrar na “última câmara”, onde enfrenta
Quirrell. Em A Câmara, apesar de ele, Rony e Lockhart percorrerem o
escoadouro para encontrar o basilisco e salvar Gina Weasley, Harry precisa
vencer sozinho o último e mais perigoso trecho da jornada.
O herói penetra na “barriga da baleia”, uma expressão
tirada das lendas, como a história de Jonas, que representa “ser tragado pelo
desconhecido”.
Seja
quando entra na Câmara Secreta ou quando penetra no esconderijo de Lupin, debaixo do Salgueiro
Lutador, Harry está na barriga da baleia.
II. Iniciação
O herói segue um caminho no qual
é continuamente posto à prova. O ambiente é desconhecido. O herói pode
encontrar companheiros que o ajudem a passar pelas provas. Forças invisíveis
podem também vir em seu auxílio.
Esses elementos se repetem em todos os livros. Harry sempre recebe
novos amuletos, tal como a Capa da Invisibilidade, em A Pedra , e o
Mapa do Maroto, em Azkaban.
Ele aprende a invocar forças, como o Patrono.
O herói é raptado, ou precisa empreender uma jornada
à noite ou pelo mar.
Harry é literalmente raptado quando toca a Taça Tribruxo, que havia sido
transformada em portal.
O herói enfrenta um dragão simbólico. Ele pode sofrer
uma morte ritual, talvez mesmo desmembramento.
Harry luta contra o basilisco, os dementadores
e, é claro,
com o maior de todos os dragões simbólicos – Voldemort. E parece que em cada aventura Harry sofre novos tipos de
ferimentos: por exemplo, ele é literalmente desmembrado em A Câmara , quando
quebra o braço durante uma partida de quadribol e seus ossos são acidentalmente
removidos por um feitiço malfeito.
O herói é reconhecido por seu pai ou se reúne a ele.
Ele começa a entender essa força que comanda a sua vida.
Em todas as aventuras, Harry vivencia um profundo momento de contato com seus
pais, como quando eles aparecem no Espelho de Ojesed, em A Pedra , e
como imagens fantasmas emitidas pela varinha mágica de Voldemort, em O Cálice.
O herói torna-se quase divino. Ele ultrapassou a
ignorância e o medo.
Harry conquista uma vitória contra o medo em cada aventura. Embora
pareça surpreso por conseguir isso, ele se convence, progressivamente, a cada
embate com Voldemort, que o Lorde das Trevas não o derrotará. Como diz
Dumbledore, ao final de O Cálice, “Você mediu forças com o poder de um
bruxo adulto e enfrentou-o de igual para igual”.
O herói recebe a última dádiva, o objetivo de sua
busca. Pode ser um elixir da vida. E pode ser diferente do objetivo original do
herói, pois ele se tornou mais sábio durante seu percurso.
Em A Pedra, o Espelho de Osejed coloca a última dádiva – algo que de fato produz um
elixir da vida – bem em seu bolso.
Em Azkaban, ele encontra o prêmio que todos os bruxos
vêm procurando: Sirius Black. Mas, depois de descobrir a verdade sobre Black,
ele arruma um jeito para salvá-lo da inevitável sentença de morte – o que é a
mesma coisa que ter lhe dado um elixir da vida.
Em O Cálice, o objetivo é óbvio: a vitória no Torneio Tribruxo. Mas o que Harry
descobre é mais profundo. Ele luta contra Voldemort, varinha mágica contra
varinha mágica, e novamente escapa da morte – dessa vez, em virtude de suas
próprias habilidades. Então, começa a se dar conta do quanto é grande o seu
poder de bruxo.
III. Retorno
O herói empreende um vôo mágico
de volta ao seu lugar de origem. Ele pode ser salvo por forças mágicas. Um de
seus protetores iniciais pode ajudá-lo. Uma pessoa, ou alguma coisa de seu
mundo de origem, pode aparecer para trazê-lo de volta.
O herói volta ao mundo cotidiano, atravessando de
novo a passagem. Ele pode ter alguma dificuldade para se readaptar à sua vida
original onde as pessoas não conseguem compreender o que vivenciou.
Depois de cada período escolar, ele tem de voltar para a residência dos Dursley, na
Rua dos Alfeneiros, onde definitivamente ninguém o compreende. Mesmo outros
bruxos têm dificuldade de compreendê-lo, como lemos no final de Azkaban. “Ninguém em Hogwarts sabia a verdade do que
acontecera... A medida que o trimestre foi chegando ao fim, Harry ouviu muitas
teorias diferentes sobre o que realmente acontecera, mas nenhuma delas sequer se
aproximava da verdadeira”.
O herói se torna senhor de ambos os mundos: o do
cotidiano, que representa a sua existência material, e o mundo mágico, que
significa seu íntimo.
Encontrar Voldemort é o pior pesadelo da maioria dos bruxos. Mas
Harry encontrou-o muitas vezes e viu coisas que nenhum outro bruxo jamais viu.
Esses encontros o fizeram
conhecer uma parte de si mesmo na qual os demais bruxos jamais pensaram. Todos
podem estar certos de que, eventualmente – mesmo que ele próprio duvide – essas
experiências vão fazer dele um bruxo até mesmo mais poderoso do que Dumbledore
(Não há dúvida de que Dumbledore sabe disso, e de que a perspectiva lhe agrada).
O herói conquistou sua liberdade para viver como
desejar. Superou os medos que o impediam de viver plenamente.
O medo, assim nos é dito, é o maior inimigo de Harry – maior até
do que Voldemort. Em Azkaban, o Professor Lupin não deixa Harry
enfrentar o bicho-papão porque não queria uma imagem de Voldemort revoando por
Hogwarts. Mas Harry lhe diz: “Eu não
estava pensando em
Voldemort... Eu lembrei foi dos dementadores”. Lupin fica
impressionado com a percepção de Harry. “Isso
sugere que o que você mais teme é o medo. Muito sábio, Harry”.
Claro que
Rowling não segue
uma espécie de mapa passo a passo. Esses padrões e modelos aparecem em seus
livros assim como têm estado presentes na mitologia e no folclore há séculos,
já que a jornada do herói permanece a mesma. Lutar contra as forças das
trevas que existem no mundo exige que o herói enfrente as trevas que existem
dentro de si mesmo e redescubra, a cada aventura, que é merecedor da vitória.
Nós entendemos Harry porque, como Campbell diz, “todos temos de enfrentar nosso
grande desafio”.
GUIA DAS ABREVIAÇÕES DOS TÍTULOS DOS LIVROS
Harry Potter e a Pedra Filosofal. A Pedra
Harry Potter e a Câmara Secreta: A Câmara
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban: Azkaban
Harry Potter e o Cálice de Fogo: O Cálice
Animais Fantásticos e Onde Habitam: Animais Fantásticos
Quadribol Através dos Séculos: Quadribol
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Por favor, lembre-se, NÃO DEIXE SPOILERS nos comentários. Ajude a manter o suspense daqueles que ainda não leram os livros ou viram os filmes. Os comentários com Spoilers estarão sujeito à exclusão.