quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O MANUAL DO BRUXO - ALLAN ZOLA KRONZEK - 13







Vou olhar em minha bola de cristal...
Hoje, essas palavras costumam ser ouvidas como uma réplica sarcástica a perguntas sobre o futuro insondável. No entanto, para os praticantes das diversas artes da adivinhação olhar na bola de cristal é assunto sério.



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Vou olhar em minha bola de cristal...
Hoje, essas palavras costumam ser ouvidas como uma réplica sarcástica a perguntas sobre o futuro insondável. No entanto, para os praticantes das diversas artes da adivinhação olhar na bola de cristal é assunto sério. Em Hogwarts, a professora Trelawney ensina aos alunos do terceiro ano a forma correta de observar a esfera nebulosa — garan­tindo que a paciência e a tranqüilidade terminarão por recompensá-los com a visão do futuro. Harry, Rony e Hermione são, no mínimo, céti­cos, mas outros alunos que acreditam no poder revelador da bola de cristal sem dúvida não estão sozinhos.
Embora antes da Idade Média não se tenham usado autênticas bolas de cristal, a cristalomancia — arte de contemplar o cristal natural ou polido no intuito de ver o futuro — pertence a uma tradição muito mais antiga. É uma forma de ler o cristal — método de adivinhação que consiste em con­templar uma superfície límpida ou reflexiva até que algumas imagens comecem a se formar dentro do próprio objeto ou no interior da mente da pessoa. Parece que todas as culturas praticaram algum tipo de leitura de cristais. Na antiga Mesopotâmia, os adivinhos derramavam azeite em vasilhas de água e interpretavam as formas que apareciam na superfície. O profeta bíblico José levava consigo um cálice de prata que usava tanto para beber como para ver o futuro. Os antigos egípcios, árabes e persas contemplavam vasos de tinta, ao passo que os gregos miravam espelhos resplandecentes e metal polido na esperança de ter visões esclarecedo­ras. Os romanos foram os primeiros verdadeiros cristalomantes, preferindo contemplar cristais de quartzo ou de berilo polidos (se bem que não necessariamente redondos).
Mesmo naquele tempo, alguém tão cético quanto Hermione não poderia ser um bom vidente, uma vez que a sinceridade, uma disposição mental positiva e a fé no método eram consideradas as chaves do suces­so. O cristalomante ideal devia ser física e espiritualmente puro, preparando-se para cada leitura mediante alguns dias de prece e jejum. Para as sessões de leitura do cristal, costumava-se usar um aposento espe­cial, com atmosfera solene e cerimoniosa. Tais preparativos e cuidados com os detalhes destinavam-se a ajudar o vidente a alcançar um estado de transe enquanto mirava o cristal, aumentando a probabilidade de que aparecessem imagens na sua mente. Os antigos pensavam que tudo o que era visto por cristalomantes provinha da mente deles e não do inte­rior do cristal em si. Mesmo assim, essas visões eram tidas como autên­ticas profecias e não meros devaneios.
Em certas tradições, as crianças eram consideradas os melhores leitores de cristais, visto que eram espiritualmente puras e provavel­mente mais abertas à imaginação do que os adultos. Essa teoria teve aceitação geral na Europa renascentista, quando eventualmente se usava uma criança para prever o futuro, por meio de um ritual de leitura do cristal semelhante ao dos antigos, que compreendia preces, incenso e palavras mágicas. Nesse período, crianças e adultos passaram a contem­plar bolas de cristal com finalidades mais práticas, tais como descobrir a identidade de criminosos ou localizar bens perdidos ou roubados. Um relato de 1671, por exemplo, fala de um comerciante que, se vendo cons­tantemente roubado, resolveu vagar pelas ruas próximas, à meia-noite, em companhia de um menino e de uma menina, orientados a olhar num cristal até verem as feições do ladrão. Nunca saberemos, contudo, se o comerciante conseguiu pegar o homem certo.
Sem dúvida, a bola de cristal mais famosa do Renascimento pertenceu a John Dee, um matemático e astrônomo inglês muito respeitado, con­tratado para calcular astrologicamente o momento correto para a coroação da rainha Elizabeth I, em 1558. Dee se interessava profunda­mente pela arte de ler o cristal, vendo nela um modo de fazer contato com o mundo dos anjos e dos espíritos, os quais ele acreditava que ti­nham um conhecimento que não podia ser descoberto por qualquer outra via. Dee possuía uma bola de cristal que descreveu como "brilhan­tíssima, claríssima e magnífica, do tamanho de um ovo". Infelizmente, porém, por mais que Dee olhasse a bola de cristal, nada enxergava. Em vez de desistir, contratou Edward Kelly, um leitor de cristal profissional que muitos estudiosos crêem ter sido um vigarista. Durante anos, os dois trabalharam juntos. Dee fazia perguntas, Kelly olhava na bola de cristal e informava as respostas. Juntos, Dee e Kelly receberam uma quantidade enorme de mensagens dos espíritos, entre as quais uma que previa a exe­cução de Maria, a rainha dos escoceses, que de fato ocorreu em fevereiro de 1586. A bola de cristal de Dee se encontra, hoje, no Museu Britânico, em Londres, Inglaterra.
A exemplo de Dee, alguns videntes de bola de cristal modernos usam seus globos para tentar se comunicar com o mundo dos espíritos. Outros lêem a sorte ou tentam localizar pessoas desaparecidas. A maioria utiliza métodos semelhantes aos dos tempos antigos, embora seus preparativos não sejam tão rigorosos. Dão muita atenção ao aspecto geral da sala e a leitura da bola de cristal costuma ser feita na penumbra. A bola de cristal é, em geral, uma esfera perfeita com cerca de dez centímetros de diâmetro e pode ser branca, azul, violeta, amarela, verde, opalina ou transparente. Tradicionalmente, a bola repousa sobre uma base de ébano, marfim ou pau de buxo muito lustroso. Na hora da sessão, o vidente pode pôr a bola sobre uma mesa ou segurá-la na palma da mão, contra o fundo de um tecido preto.
Hoje, as pessoas em geral associam as bolas de cristal a vitrines de su­postos médiuns ou videntes itinerantes que, como o professor Marvel em 0 Mágico de Oz, afirmam ser capazes de "ver tudo e saber tudo". Embora a arte de consultar o cristal não conte mais com o respeito universal que go­zava em tempos antigos, ainda desempenha um papel relevante em muitas culturas. É digno de nota o fato de o Dalai-Lama atual ter sido descoberto por uma leitura similar, executada por um comitê de monges que pro­curaram sua identidade mirando as águas do lago Lhotso, no Tibet.


Prisioneiro de Azkaban, 15





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