"Hoje", escreveu um inglês em 1600, "(um homem) não é considerado intelectual a menos que saiba fazer o horóscopo das pessoas, afugentar demônios ou tenha alguma capacidade de predizer o futuro."
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¯ O MÁGICO INTELECTUAL ¯
"Hoje", escreveu um inglês
em 1600, "(um homem) não é considerado intelectual a menos que saiba
fazer o horóscopo das pessoas, afugentar demônios ou tenha alguma capacidade
de predizer o futuro."
Pouco mais de um século
antes, a idéia de que um homem culto pudesse se preocupar com as artes
tradicionais dos mágicos seria completamente impensável. Mas, no fim do século
XV e
no século XVI, a magia ganhara uma nova respeitabilidade
intelectual. Na Itália renascentista, os intelectuais haviam ressuscitado a
antiga idéia de que a magia podia ser um meio de alcançar objetivos espirituais
e o domínio sobre o mundo natural. Mediante estudos dedicados, esforço de
autoconhecimento e o poder da imaginação, o ser humano podia aprender a usar
palavras mágicas, encantamentos e símbolos para controlar as forças ocultas da
natureza e conseguir quase qualquer coisa.
Essas idéias logo se expandiram
para o norte, onde encontraram um defensor veemente na pessoa de um intelectual
alemão inteligente e jovem chamado Cornelius Agrippa. Embora Agrippa atualmente
seja mais conhecido como a figurinha dos Sapos de Chocolate que Rony Weasley
não conseguiu obter, no seu tempo ele era conhecido como autor de Filosofia
Oculta, livro em três volumes, publicado em 1533. Nessa obra, afirmava que
toda a natureza — gente, plantas, animais, pedras e minerais — continha
propriedades ocultas e poderes que podiam ser descobertos e utilizados. A
missão do mágico intelectual, segundo Agrippa, era usar as ferramentas da magia
- adivinhação, aritmancia, astrologia, o estudo dos demônios e dos anjos
- para desvendar os sentidos e as forças ocultas na natureza e usá-las para
resolver problemas e curar doenças. No curso dessa pesquisa, afirmava Agrippa,
o homem também poderia descobrir aquela parte de si mesmo que estava ligada ao universo em geral e, graças
à força da sua imaginação e da sua vontade, poderia obter poderes
sobrenaturais.
Para a frustração
de seus leitores, Agrippa não explicou exatamente como um mágico poderia
concretizar esse potencial, mas isso não impediu que muita gente tentasse.
Entre os numerosos seguidores de Agrippa estavam estudantes universitários que
tentavam invocar demônios em seus dormitórios, médicos que tentavam controlar
as forças ocultas da natureza para curar seus pacientes e homens de ciência
ansiosos para desvendar todos os mistérios do universo. O mais famoso deles foi
o matemático, astrônomo e astrólogo inglês John Dee, que ganhou fama de mágico
no início da carreira e acabou preso em 1533, acusado de tentar matar a rainha
Maria por meio de um encantamento. Dee acreditava poder aprender muitos
segredos do mundo por intermédio de anjos e espíritos, com os quais tentava
entrar em contato olhando para uma bola de cristal e para um espelho mágico.
Embora ele dificilmente recebesse alguma resposta do mundo dos espíritos, Dee
tinha uma série de adeptos que afirmavam ser capazes de ver e ouvir os anjos.
Porém, apesar de décadas de tentativas, ninguém foi capaz de convencer essas criaturas
a revelar os segredos de Deus e do universo, que Dee tentava desesperadamente
descobrir.
No entanto, na época
em que Dee morreu, em 1608, o interesse por magia estava realmente na moda
entre os intelectuais ingleses. Durante boa parte do século XVII promoveram-se
debates públicos na Universidade
de Oxford sobre temas como o poder dos encantamentos, o emprego da magia para
curar doenças e a eficácia das poções de amor. Sem dúvida,
muitos jovens intelectuais também se imaginavam mágicos.
Um dos
intelectuais mais famosos do Renascimento, Agrippa falava oito idiomas,
era
advogado, médico e tinha grandes conhecimentos de
filosofia, astrologia e religião.
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