segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O MANUAL DO BRUXO - ALLAN ZOLA KRONZEK - 53 parte 5







Apesar de seus truques e ilusões, os mágicos de teatro talvez sejam os mágicos mais "verdadeiros" de todos. Os contadores de história criam mágicas que saem de sua imaginação para a nossa (o que já é um truque formidável). Os mágicos de espetáculos aproveitam as (...).



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¯ O MÁGICO DE ESPETÁCULOS ¯

Apesar de seus truques e ilusões, os mágicos de teatro talvez sejam os mágicos mais "verdadeiros" de todos. Os contadores de história criam mágicas que saem de sua imaginação para a nossa (o que já é um truque formidável). Os mágicos de espetáculos aproveitam as mesmas proezas narradas na ficção e as apresentam para nós ao vivo. Assim como seus parentes lendários, os mágicos de teatro aparecem e desaparecem, levitam ou voam, prevêem o futuro, caminham através de paredes, criam coisas do nada, transformam homens em animais ou senhoras em leopardos. Má­gicos de teatro também lançam feitiços sobre a sua platéia, levando as pes­soas a ver coisas que não existem e a não ver coisas que estão bem na sua frente. Não é surpresa, então, que, séculos atrás, o público de espetáculos de magia muitas vezes tivesse a sensação de ter sido enfeitiçado!
Embora a magia de espetáculo - a arte de criar e apresentar ilusões -possa ser encontrada em várias culturas no mundo inteiro, os primeiros ilusionistas que conhecemos são os mágicos dos séculos I e II, na Grécia e em Roma. O escritor latino Sêneca e os gregos Alcífron e Sexto Empírico registraram descrições das apresentações a que assistiram — em especial, do truque conhecido como "copos e bolas", que ainda é apre­sentado hoje em dia por mágicos modernos. Executado em geral com três copinhos e três bolinhas (nada demais até aí), esse truque incorpo­ra muitos dos efeitos mais espantosos da magia. Sob o exame atento de uma platéia muito próxima - que podia estar a meio metro de distância - as bolas desaparecem, reaparecem embaixo dos copos, passam de forma inexplicável de um copo para o outro, atravessam o topo sólido dos copos e às vezes saem dos narizes e das orelhas dos espectadores. No final apoteótico, as bolas se transformam em outra coisa - pedaços de fruta, ou às vezes camundongos ou pintinhos!
Por questões de necessidade, os primeiros ilusionistas eram bem versá­teis. Não haviam sido inventados muitos truques e por isso, além de apre­sentar o que hoje chamamos de "truques de magia", os ilusionistas também faziam acrobacia, malabarismo, apresentavam teatro de marionetes e exi­biam animais amestrados, como cães, macacos ou ursos. Existiam, em Atenas, escolas para esses artistas de rua e muitos ficaram famosos graças à sua capacidade de assombrar e divertir até o público mais sofisticado. Os cidadãos gregos apreciavam todo tipo de habilidade - artística, atlética, teatral, musical e retórica - e o ilusionismo não era uma exceção.
A medida que o Império Romano se expandiu, os mágicos passaram a surgir em cidades e vilas por toda a Europa. Alguns se apresentavam sozi­nhos, enquanto outros se uniam a trupes de acrobatas, malabaristas, videntes, poetas e músicos, e viajavam de cidade em cidade, entretendo a realeza em castelos feudais e se apresentando para pessoas comuns em tabernas, estábulos e pátios. Não conhecemos quase nada sobre esses má­gicos, mas sabemos que muita gente, sobretudo do clero, não gostava nem um pouco deles. Embora esses ilusionistas inofensivos fossem conhe­cidos na Inglaterra como malabaristas e a sua arte fosse definida, de forma inocente, como malabarismo, a Igreja considerava o ilusionismo imoral porque se baseava no engano e na ilusão. As mesmas técnicas de habili­dade manual usadas nos truques de mágica podiam também ser usadas para trapacear no jogo ou para enganar o público com curas "milagrosas". Outros temiam os ilusionistas e desconfiavam deles porque suspeitavam que as ilusões do mágico podiam ter ligação com poderes sobrenaturais. Como a natureza exata dos métodos de um mágico de rua era geralmente mantida em segredo, as pessoas que acreditavam em bruxaria e em demônios — até o fim do século XVII havia muitas — suspeitavam do pior. Além disso, muitos desses artistas exploravam as crenças das pessoas em mágicas, recitando encantamentos, brandindo uma varinha mágica, fin­gindo lançar feitiços ou invocando poderes sobrenaturais.


Este desenho de um livro de astrologia alemão, de 1404, contém a imagem mais antiga que se conhece de um mágico de rua em ação. Seu truque é o clássico "copos e bolas". No alto estão cinco dos doze signos do zodíaco: Touro, Leão, Câncer (o caranguejo), Aries (o carneiro) e Capricórnio (o bode).

Durante o século XVIII, o mágico de espetáculo começou a emergir como uma forma de entretenimento autônoma, distinto do malabarismo, do teatro de marionetes e de outras artes de circo. Graças ao novo modo de pensar criado pela revolução científica, os ilusionistas não eram mais objeto da suspeita de possuírem dons sobrenaturais e sua posição como artistas da ilusão - ou "mágicos", como passaram a ser chamados no fim da década de 1780 — ficou mais clara. Os mágicos começaram a cobrar ingresso para suas apresentações (antes trabalhavam em troca de gorje­tas, ou vendiam pequenos objetos como talismãs da sorte ou tônicos medicinais após o espetáculo) e se apresentavam com mais freqüência na corte dos reis. Em meados de 1700, os espetáculos de magia alcançaram o palco dos teatros. Giovanni Giuseppe Pinetti, considerado um dos primeiros grandes mágicos teatrais, apresentou-se nos melhores teatros da Europa nas décadas de 1780 e 1790, apresentando prodígios como tirar a camisa de um homem sem antes ter despido seu paletó, ler os pen­samentos de uma pessoa da platéia e, com uma pistola, disparar um prego bem no centro de uma carta previamente escolhida, em pleno ar, cravando-a instantaneamente na parede.
No final do século XIX e início do século XX, a magia se caracteriza­va por duas horas de ilusões mirabolantes, repletas de maravilhas que deixavam a platéia de olhos arregalados. Os artistas circulavam pelo globo com toneladas de equipamentos, cenários e roupas. Harry Houdini, conhecido como um homem capaz de se libertar de qualquer coisa - inclusive correntes, algemas e prisões -, tornou-se o ilusionista mais famoso e mais rico de seu tempo.
Hoje, gente de todo o mundo ainda pára a fim de observar um artista de rua ou paga caro por um ingresso para assistir a um espetáculo teatral de ilusionismo. Por quê? Todos sabem que "é só um truque". Estarão ten­tando adivinhar os segredos do mágico? Na verdade, achamos que é jus­tamente o contrário. O que as pessoas querem não são os segredos - mas os mistérios. A magia mexe com nossa cabeça, vira o mundo de pernas para o ar, nos enche de assombro e de espanto. Também nos recorda de algo que a maioria das bruxas e magos já sabem - que o impossível é sempre possível.


Giovanni Pinetti foi um dos primeiros grandes mágicos de teatro.
Em um de seus números mais famosos, uma carta escolhida era devolvida ao baralho. O baralho era então jogado no ar e a carta escolhida era cravada na parede por um prego disparado de uma pistola.






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