No uso cotidiano que fazemos da palavra, amaldiçoar alguém é, no máximo,
algo grosseiro. Embora possa ser ofensivo, e embora seja sem dúvida falta de
educação, nada tem de fatal. Séculos atrás, porém, uma maldição era muito mais
do que uma forma de praguejar. As maldições eram consideradas uma das formas
mais poderosas e perigosas de magia, destinadas a (...)
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Quando nossos pais nos dizem para não
ficar amaldiçoando coisas ou pessoas, nunca pensamos que seja uma questão de
vida ou morte. E não é mesmo. No uso cotidiano que fazemos da palavra,
amaldiçoar alguém é, no máximo, algo grosseiro. Embora possa ser ofensivo, e
embora seja sem dúvida falta de educação, nada tem de fatal. Séculos atrás,
porém, uma maldição era muito mais do que uma forma de praguejar. As maldições
eram consideradas uma das formas mais poderosas e perigosas de magia, destinadas
a gerar dor, sofrimento, doença ou até morte a um inimigo. E sem dúvida por
isso que o Ministério da Magia recomenda que as maldições não sejam ensinadas
antes da sexta série nas escolas de magia. Afinal, a última coisa que um
professor deseja é um jovem nervosinho proferindo maldições contra um colega de
turma que tirou notas mais altas do que ele.
O costume de usar maldições
contra inimigos existiu em várias culturas, em todo o mundo, durante milhares
de anos. Maldições podem ser faladas ou escritas. Uma forma típica de maldição
oral consistia em invocar a ajuda de um ser sobrenatural, como um demônio ou
um deus, e depois traçar, com todos os mínimos detalhes, o destino que se
desejava para a vítima. Como exemplo, temos esta maldição nefasta do século IV: "Eu
vos invoco, espírito do mal, que vos abrigais no cemitério e privais o homem da
cura. Ide e ponde um laço na cabeça [da vítima], em seus olhos, em sua boca, em
sua língua, em sua garganta; ponde água venenosa em seu estômago. Se não fordes
e puserdes água em seu estômago, enviarei contra vós muitos anjos maus.
Amém." Essas maldições eram tidas como eficazes, quer fossem berradas no
ouvido de alguém ou sussurradas a centenas de quilômetros de distância.
Maldições escritas, no entanto,
eram geralmente consideradas mais poderosas do que as maldições
faladas, pois podiam durar por muito tempo após sua criação.
Algumas maldições
bem antigas, do século V a.C, sobreviveram até hoje, embora seja
muito provável que suas vítimas originais já estejam mortas há muito tempo.
Encontram-se inscritas em "tabuletas de maldição" - placas de
chumbo, cerâmica ou cera, que trazem o nome da vítima, o resultado desejado da
maldição, algumas palavras mágicas e os nomes dos demônios que deveriam
ajudar a executar a maldição. Uma tabuleta de maldição podia trazer escrito
algo parecido com a seguinte frase: "Assim como este pedaço de chumbo
ficará frio, assim também ficará John Smith." A tabuleta era então
enterrada e, quando esfriasse, esperava-se que John Smith sentisse a
temperatura do próprio corpo cair, até finalmente morrer. Acreditava-se que os
lugares mais poderosos para enterrar tabuletas de maldição eram locais de
morte: túmulos recentes, campos de batalha e locais onde pessoas eram
executadas. Podiam também ser jogadas em poços, que eram vistos como entradas
para o reino dos mortos. Para dar uma força extra, enfiava-se um prego no nome
da pessoa ou então enrolava-se a tabuleta firmemente com um arame.
As tabuletas de maldição
eram amplamente usadas na Grécia e na Roma antigas. Os arqueólogos recuperaram
vários tipos de tabuletas, algumas pedindo a morte dolorosa de um inimigo,
outras destinadas a apenas embaralhar as idéias e travar a língua de oponentes
políticos ou de adversários jurídicos. Há uma tabuleta cujo propósito era assegurar
o resultado de uma corrida de bigas, amaldiçoando os cavalos e os condutores
da equipe adversária! Embora as maldições para fins particulares fossem
condenadas oficialmente, ao que tudo indica eram aceitáveis quando aplicadas
por funcionários públicos contra criminosos, inimigos do Estado ou oponentes
militares.
Durante a Idade Média,
a utilização de maldições governamentais declinou, mas acreditava-se que as
maldições proferidas por pessoas pobres e oprimidas eram muito poderosas,
sobretudo quando a raiva que as inspirava parecia justa. A Maldição do Mendigo,
proferida contra aqueles que recusavam esmolas para os pobres, foi amplamente
temida durante séculos.
Na Inglaterra dos séculos
XVII e
XVI, as
maldições públicas eram rotineiras. Não era incomum, por exemplo, ver alguém
cair de joelhos na praça da cidade e clamar a Deus que queimasse as casas de
seus inimigos, incendiasse suas plantações, matasse seus filhos, destruísse
seus bens e fizesse cair sobre suas cabeças "todas as pragas do
Egito". Embora todo esse palavrório pudesse parecer inofensivo, era bom
tomar certo cuidado com as maldições. Se a pessoa amaldiçoada de fato ficasse
doente, o autor da maldição seria considerado bem-sucedido e poderia acabar na
cadeia, acusado de bruxaria.
Cálice
de Fogo, 14
AUTORIZADO
A AMALDIÇOAR
Desde os tempos antigos até
a época moderna, aqueles que desejam fazer mal a um inimigo procuraram, muitas
vezes, ajuda de um profissional — um mago ou bruxa de aldeia, alguém que fosse
conhecido por criar e lançar maldições eficazes. As pessoas que sabiam ter
sido amaldiçoadas algumas vezes apresentavam sintomas reais, talvez por conta
da angústia e do medo inspirados pela idéia de que uma maldição era capaz de
provocar náusea, vômito, dor de cabeça, insônia e outros males. Se a vítima não
estivesse demasiadamente incapacitada, podia procurar outro mago para desfazer
a maldição e executar uma contramaldição. Porém, nas aldeias onde só havia um
mago, ele acabava contratado por ambas as partes, o que era um excelente
negócio.
A
MALDIÇÃO DA MÚMIA
Uma das maldições
mais famosas de todos os tempos - a "Maldição da Múmia" no túmulo do
rei Tut, no Egito -provavelmente não passa de um mito. Segundo a lenda, quando
o arqueólogo inglês Howard Carter abriu o túmulo do rei Tut, em 1922, ignorou
uma inscrição, que dizia: "A Morte Virá em Asas Ligeiras para Aquele que
Perturbar o Repouso do Rei". Alguns meses depois, o financiador da
expedição de Carter, Lord Carnarvon, morreu de forma inesperada em virtude da
picada de um mosquito infectado. (Sua morte realmente veio em asas ligeiras!)
Nos doze anos seguintes morreram outras cinco pessoas que estavam presentes
quando a tumba foi aberta.
Ainda assim há
poucos indícios de que houvesse mesmo uma maldição inscrita nesse túmulo.
Embora muitos contos folclóricos contenham maldições requintadas que prometem
morte rápida e terrível para quem violar a sepultura de uma múmia, na
realidade os arqueólogos constataram a existência de maldições protetoras em
apenas dois túmulos egípcios, e elas simplesmente ameaçavam os ladrões de
túmulos de serem julgados com severidade pelos deuses. A maldição gravada no
túmulo do rei Tut — se é que havia alguma - desapareceu misteriosamente. O
próprio Howard Carter viveu por mais dezessete anos após ter perturbado o
repouso de Tut, vindo a se tornar um dos mais famosos e admirados egiptólogos
do mundo.
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