quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O MANUAL DO BRUXO - ALLAN ZOLA KRONZEK - 55







No uso cotidiano que fazemos da palavra, amaldiçoar alguém é, no máximo, algo grosseiro. Embora possa ser ofen­sivo, e embora seja sem dúvida falta de educação, nada tem de fatal. Séculos atrás, porém, uma maldição era muito mais do que uma forma de praguejar. As maldições eram consideradas uma das formas mais poderosas e perigosas de magia, destinadas a (...) 



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Quando nossos pais nos dizem para não ficar amaldiçoando coisas ou pessoas, nunca pensamos que seja uma questão de vida ou morte. E não é mesmo. No uso cotidiano que fazemos da palavra, amaldiçoar alguém é, no máximo, algo grosseiro. Embora possa ser ofen­sivo, e embora seja sem dúvida falta de educação, nada tem de fatal. Séculos atrás, porém, uma maldição era muito mais do que uma forma de praguejar. As maldições eram consideradas uma das formas mais poderosas e perigosas de magia, destinadas a gerar dor, sofrimento, doença ou até morte a um inimigo. E sem dúvida por isso que o Ministério da Magia recomenda que as maldições não sejam ensinadas antes da sexta série nas escolas de magia. Afinal, a última coisa que um professor deseja é um jovem nervosinho proferindo maldições contra um colega de turma que tirou notas mais altas do que ele.
O costume de usar maldições contra inimigos existiu em várias cul­turas, em todo o mundo, durante milhares de anos. Maldições podem ser faladas ou escritas. Uma forma típica de maldição oral consistia em invo­car a ajuda de um ser sobrenatural, como um demônio ou um deus, e depois traçar, com todos os mínimos detalhes, o destino que se desejava para a vítima. Como exemplo, temos esta maldição nefasta do século IV: "Eu vos invoco, espírito do mal, que vos abrigais no cemitério e privais o homem da cura. Ide e ponde um laço na cabeça [da vítima], em seus olhos, em sua boca, em sua língua, em sua garganta; ponde água venenosa em seu estômago. Se não fordes e puserdes água em seu estô­mago, enviarei contra vós muitos anjos maus. Amém." Essas maldições eram tidas como eficazes, quer fossem berradas no ouvido de alguém ou sussurradas a centenas de quilômetros de distância. Maldições escritas, no entanto, eram geralmente consideradas mais poderosas do que as maldições faladas, pois podiam durar por muito tempo após sua criação.
Algumas maldições bem antigas, do século V a.C, sobreviveram até hoje, embora seja muito provável que suas vítimas originais já estejam mortas há muito tempo. Encontram-se inscritas em "tabuletas de maldi­ção" - placas de chumbo, cerâmica ou cera, que trazem o nome da vítima, o resultado desejado da maldição, algumas palavras mágicas e os nomes dos demônios que deveriam ajudar a executar a maldição. Uma tabuleta de maldição podia trazer escrito algo parecido com a seguinte frase: "Assim como este pedaço de chumbo ficará frio, assim também ficará John Smith." A tabuleta era então enterrada e, quando esfriasse, espera­va-se que John Smith sentisse a temperatura do próprio corpo cair, até finalmente morrer. Acreditava-se que os lugares mais poderosos para enterrar tabuletas de maldição eram locais de morte: túmulos recentes, campos de batalha e locais onde pessoas eram executadas. Podiam tam­bém ser jogadas em poços, que eram vistos como entradas para o reino dos mortos. Para dar uma força extra, enfiava-se um prego no nome da pessoa ou então enrolava-se a tabuleta firmemente com um arame.
As tabuletas de maldição eram amplamente usadas na Grécia e na Roma antigas. Os arqueólogos recuperaram vários tipos de tabuletas, algumas pedindo a morte dolorosa de um inimigo, outras destinadas a apenas embaralhar as idéias e travar a língua de oponentes políticos ou de adversários jurídicos. Há uma tabuleta cujo propósito era assegurar o resultado de uma corrida de bigas, amaldiçoando os cavalos e os condu­tores da equipe adversária! Embora as maldições para fins particulares fossem condenadas oficialmente, ao que tudo indica eram aceitáveis quando aplicadas por funcionários públicos contra criminosos, inimigos do Estado ou oponentes militares.
Durante a Idade Média, a utilização de maldições governamentais declinou, mas acreditava-se que as maldições proferidas por pessoas pobres e oprimidas eram muito poderosas, sobretudo quando a raiva que as inspirava parecia justa. A Maldição do Mendigo, proferida contra aqueles que recusavam esmolas para os pobres, foi amplamente temida durante séculos.
Na Inglaterra dos séculos XVII e XVI, as maldições públicas eram rotineiras. Não era incomum, por exemplo, ver alguém cair de joelhos na praça da cidade e clamar a Deus que queimasse as casas de seus inimi­gos, incendiasse suas plantações, matasse seus filhos, destruísse seus bens e fizesse cair sobre suas cabeças "todas as pragas do Egito". Embora todo esse palavrório pudesse parecer inofensivo, era bom tomar certo cuida­do com as maldições. Se a pessoa amaldiçoada de fato ficasse doente, o autor da maldição seria considerado bem-sucedido e poderia acabar na cadeia, acusado de bruxaria.


Cálice de Fogo, 14



AUTORIZADO A AMALDIÇOAR

Desde os tempos antigos até a época moderna, aqueles que desejam fazer mal a um inimigo procuraram, muitas vezes, ajuda de um profissional — um mago ou bruxa de aldeia, alguém que fosse conhecido por criar e lançar maldi­ções eficazes. As pessoas que sabiam ter sido amaldiçoadas algumas vezes apresentavam sintomas reais, talvez por conta da angústia e do medo inspirados pela idéia de que uma mal­dição era capaz de provocar náusea, vômito, dor de cabeça, insônia e outros males. Se a vítima não estivesse demasiada­mente incapacitada, podia procurar outro mago para desfa­zer a maldição e executar uma contramaldição. Porém, nas aldeias onde só havia um mago, ele acabava contratado por ambas as partes, o que era um excelente negócio.



A MALDIÇÃO DA MÚMIA

Uma das maldições mais famosas de todos os tempos - a "Maldição da Múmia" no túmulo do rei Tut, no Egito -provavelmente não passa de um mito. Segundo a lenda, quando o arqueólogo inglês Howard Carter abriu o túmulo do rei Tut, em 1922, ignorou uma inscrição, que dizia: "A Morte Virá em Asas Ligeiras para Aquele que Perturbar o Repouso do Rei". Alguns meses depois, o financiador da expedição de Carter, Lord Carnarvon, morreu de forma inesperada em virtude da picada de um mosquito infectado. (Sua morte realmente veio em asas ligeiras!) Nos doze anos seguintes morreram outras cinco pessoas que estavam pre­sentes quando a tumba foi aberta.
Ainda assim há poucos indícios de que houvesse mesmo uma maldição inscrita nesse túmulo. Embora muitos contos folclóricos contenham maldições requintadas que prometem morte rápida e terrível para quem violar a sepultura de uma múmia, na realidade os arqueólogos constataram a existên­cia de maldições protetoras em apenas dois túmulos egíp­cios, e elas simplesmente ameaçavam os ladrões de túmulos de serem julgados com severidade pelos deuses. A maldição gravada no túmulo do rei Tut — se é que havia alguma - desa­pareceu misteriosamente. O próprio Howard Carter viveu por mais dezessete anos após ter perturbado o repouso de Tut, vindo a se tornar um dos mais famosos e admirados egiptólogos do mundo.







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