Algumas vezes é
verdade que a roupa faz o homem. Se você duvida, pergunte a alguém que tenha
um manto da invisibilidade. Esses trajes muito cômodos, que tornam invisível
quem o veste (...) vêm
ajudando muitos heróis a criar sua fama há centenas de anos...
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Algumas vezes é
verdade que a roupa faz o homem. Se você duvida, pergunte a alguém que tenha
um manto da invisibilidade. Esses trajes muito cômodos, que tornam invisível
quem o veste (invisível aos olhos de todos, menos de Olho-Tonto Moody), vêm
ajudando muitos heróis a criar sua fama há centenas de anos.
A idéia de peças de vestuário invisíveis
remonta à mitologia grega. Hades, o deus grego do mundo subterrâneo dos mortos,
possuía um prodigioso "chapéu de trevas", que tornava invisível todo
aquele que o usasse. (Não é à toa que Hades significa "o não
visto", em grego antigo.) Esse chapéu era muito conveniente para passar a
perna nos inimigos e muitas vezes outros personagens mitológicos vinham pegá-lo
emprestado. O jovem príncipe Perseu o usava quando partiu para matar a Medusa,
monstro com cabelos em forma de serpentes, e o deus Hermes o usou na batalha
contra o gigante Hipólito.
Outras lendas gregas falam de anéis,
flechas e até de nuvens de neblina que davam a qualquer pessoa a capacidade
invejável de perambular sem ser vista. Mas um manto da invisibilidade,
propriamente dito, só foi aparecer na Idade Média, no famoso poema austríaco
"A canção dos Nibelungos". Nesse épico do século XII, baseado
em vários contos da mitologia escandinava, um poderoso anão mágico chamado
Alberich possui um manto secreto (ou tarnekappe) capaz de tornar
invisível quem o usasse. Sendo uma roupa de poder incomum, ele também dava a
seu dono a força de doze homens. Alberich usa o tarnekappe para proteger
o tesouro subterrâneo contra os Nibelungos (poderosa estirpe de reis europeus),
até ser derrotado, quando seu manto é tomado pelo célebre herói folclórico
Siegfried. A história de Alberich e Siegfried também é contada e celebrada na ópera
alemã, do século XIX, Der Ring des Nibelungen, de
Richard Wagner.
No século XVIII, mantos,
capas e capotes da invisibilidade tornaram-se a indumentária-padrão no folclore
europeu. Diz-se que o herói popular inglês João Matador de Gigantes usava uma
"capa de trevas" que lhe permitia se aproximar furtivamente de seus
inimigos, sem ser notado. (Muito preocupado com suas roupas, João também
desfilava com um chapéu do conhecimento e sapatos da velocidade em muitas de
suas aventuras.) Os mantos da invisibilidade também têm papel de destaque em vários
contos de fadas de Grimm, como a história popular "Os Sapatos que
Dançaram até se Despedaçar". Nesse conto divertido, um soldado sem
dinheiro adquire fama, fortuna e uma noiva da família real usando seu manto
para enganar doze princesas arruinadas. Apesar de seus ardis mágicos, o soldado
quase não consegue evitar a prisão. Tem dificuldade em manter as mãos e os pés
encolhidos e, a certa altura, sua presença invisível em um bote a remos faz
com que perguntem: "Por que será que este bote está tão pesado nesta
noite?"
Mas é claro que nem todos os mantos da
invisibilidade são iguais. Como qualquer peça de vestuário, eles são feitos em
vários tamanhos, de vários tecidos e cores. O manto invisível de João Matador
de Gigantes é descrito, em geral, como uma "capa velha", ao passo que
o manto que Harry herda do pai é feito de um tecido flexível, prateado, que
ondula e cintila como água. Alguns mantos da invisibilidade também conferem
poderes adicionais, como o manto voador da invisibilidade, que aparece numa continuação
de O Mágico de Oz e era capaz de levar seu dono pelos ares, para onde
ele desejasse.
Existe, porém, uma característica
comum a todos os mantos da invisibilidade: permitem aos que o possuem fazer
exatamente o que querem, sem medo de julgamento ou represália. Como Harry
descobre quando usa seu manto para escapulir de Hogwarts fora do horário
normal, o poder da invisibilidade permite que a pessoa crie regras próprias e
vá aonde deseja. No passado, a idéia de uma liberdade ilimitada como essa levou
o antigo filósofo grego Platão a perguntar a seus discípulos como agiriam se,
de repente, ficassem invisíveis. E o que você faria? Mataria monstros terríveis,
como fez Perseu? Reinaria sobre um tenebroso mundo subterrâneo dos mortos, como
Alberich? Ou iria simplesmente escapulir sem ser visto, para comer apetitosos
Black Pepper Imps, como Harry e seus amigos?
Antes
de Harry Potter, o mais famoso proprietário de um manto da invisibilidade
foi João Matador de Gigantes, que usa aqui sua veste mágica
para passar furtivamente por dois grifos.
foi João Matador de Gigantes, que usa aqui sua veste mágica
para passar furtivamente por dois grifos.
Pedra Filosofal, 12
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