segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O MANUAL DO BRUXO - ALLAN ZOLA KRONZEK - 63







De onde essas palavras (mágicas) vieram e por que se acreditava que elas funcionavam ninguém sabe. Com certeza, algumas foram inventadas por mágicos praticantes para impressionar seus clientes. Outras palavras má­gicas, no entanto, parecem ter se originado há milhares de anos, a par­tir dos nomes de deuses e seres sobrenaturais que foram adulterados e mal traduzidos com o tempo, até se tornem irreconhecíveis.



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O poder de um mago está nas palavras que ele conhece. As palavras são o fio que tece os feitiços e sustenta os encantamentos e as maldições. Como histórias do mundo inteiro podem confirmar, há palavras mágicas para todas as ocasiões — para lançar um feitiço sobre um castelo, voar em um tapete, ficar invisível ou convencer uma vassoura a fazer o jan­tar e limpar tudo depois. E claro, não pode ser uma palavra qualquer. É ne­cessário usar as palavras certas para cada tarefa e, como o professor Flitwick recomenda sabiamente a seus alunos do primeiro ano da aula de Feitiços, devem ser pronunciadas com extrema precisão. Quando pronunciadas corretamente, funcionam automaticamente, como acender uma lâmpada. Se forem ditas de forma errada, você pode acabar com três cabeças.
Muitas das palavras ensinadas em Hogwarts vêm do latim e signifi­cam exatamente o que parecem. Petrificus Totalus deixa a vítima total­mente petrificada, enquanto riddikulus faz um bicho-papão, antes ame­drontador, parecer ridículo. Mas as palavras mágicas não precisam sig­nificar coisa alguma. Um livro de feitiços medieval diz que a frase saritap pernisox ottarim, sem nenhum sentido, abre qualquer fechadura, enquanto onaim peranties rasonastos conduz a pessoa até tesouros enterrados. Já agidem margidem sturgidem cura a dor de dente, contando que seja pronunciada sete vezes, numa terça ou quinta-feira.
De onde essas palavras vieram e por que se acreditava que elas fun­cionavam ninguém sabe. Com certeza, algumas foram inventadas por mágicos praticantes para impressionar seus clientes. Outras palavras má­gicas, no entanto, parecem ter se originado há milhares de anos, a par­tir dos nomes de deuses e seres sobrenaturais que foram adulterados e mal traduzidos com o tempo, até se tornem irreconhecíveis.
Mesmo sem ter um significado aparente, acreditava-se que as pa­lavras tinham um poder extraordinário e que podiam realizar os desejos do mágico. Na verdade, a crença de que as palavras são instrumentos de poder é, provavelmente, tão antiga quanto a própria linguagem e uma das crenças mais antigas é que, se você disser alguma coisa, ela se tornará realidade.
Uma seqüência de palavras mágicas, principalmente quando pronun­ciada de forma ritualística, é chamada de encanto, feitiço ou fórmula mágica, e é usada com freqüência para lançar feitiços ou encantamentos. Em muitas culturas tribais tradicionais, esses feitiços eram entoados ou cantados e acompanhados por danças e batidas de tambores (as palavras “canto”, “encantar”, “encantamento” e “encanto” possuem todas uma raiz latina que significa “canção” ou “cantar”). Na Grécia e Roma antigas, os bruxos com freqüência lançavam seus feitiços com lamúrios ou gritos, como um cachorro uivando para a lua. Em certas tradições hindus e bu­distas, poderes extraordinários eram associados à repetição de seqüên­cias de palavras ou frases chamadas mantras, que eram sagradas e só podiam ser ensinadas por um professor especial ou um guru. Havia um mantra que supostamente dava ao entoador o poder de controlar a natureza se repetido 200.000 vezes, e de se transportar instantanea­mente para qualquer lugar do universo se repetido um milhão de vezes.
Abracadabra, a mais conhecida de todas as palavras mágicas, foi con­siderada durante séculos extremamente poderosa. Ela apareceu pela primeira vez no livro Res Reconditae (Assuntos secretos), escrito por Serenus Sammonicus, um médico romano que viveu no século III. Serenus prescreve abracadabra como cura para a febre terçã, uma doença terrível, parecida com uma gripe, cujos sintomas ocorrem a cada três dias. A palavra pode ser pronunciada, mas, segundo Serenus, o trata­mento é mais eficaz quando abracadabra é escrita em um pedaço de pergaminho, na forma de um triângulo invertido, e pendurada no pescoço como um amuleto.


À medida que a palavra abracadabra diminui, retirando uma letra cada vez que é escrita, a doença do paciente também diminui. Depois de nove dias, o amuleto deveria ser retirado e jogado por cima do ombro em um rio que corresse para o leste, concluindo o tratamento.
Abracadabra continuou sendo usada como uma palavra mágica até o século XVII. No livro Diário do Ano da Peste (1722), o romancista inglês Daniel Defoe conta que muitos londrinos tentaram se proteger contra a epidemia de peste bubônica de 1665 usando “certas palavras e ima­gens, principalmente a palavra 'abracadabra' formando um triângulo ou pirâmide”.
Algumas das mais poderosas palavras mágicas da Idade Média eram escritas na forma de palíndromos - palavras ou frases que têm o mesmo sentido lidas de trás para a frente ou de frente para trás. Especialmente fascinantes eram as palavras com as quais se podia formar um “quadrado mágico” no qual podiam ser lidas da mesma forma de cima para baixo, de baixo para cima, da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita. O mais conhecido, que remonta ao século XVIII, é o quadrado formado com o palíndromo sator arepo tenet opera rotas.


Não se sabe o significado dessas palavras, mas, de acordo com vários livros de magia, esse quadrado tinha, pelo menos, três propriedades no­táveis: era um detector de bruxas confiável (qualquer bruxa que ficasse no mesmo cômodo que ele seria obrigada a fugir); servia de amuleto contra bruxaria e doenças; e, se escrito em uma placa de madeira e deixa­do ao alcance, funcionava como um extintor de incêndio quando joga­do em uma casa em chamas! Outros quadrados mágicos, tais como aque­les recomendados no livro de magia The sacred Magic of Abremelin the Mage (A mágica sagrada de Abremelin, o Mago), eram compostos por palín­dromos como odac dara arad cado, que fazia a pessoa voar “como um abutre” (um outro palíndromo era proposto para aqueles que preferiam voar “como um corvo”) e milon irago lamal ogari nolim que, se fosse inscrito em um pergaminho e segurado sobre a cabeça de uma pessoa, lhe dava o conhecimento de todas as coisas passadas, presentes e futuras, como se um demônio as estivesse sussurrando em seu ouvido.



HOCUS POCUS

Em um lugar, pelo menos, as palavras mágicas sempre parecem funcionar - nas apresentações dos mágicos. Os ilu­sionistas do século XVII gostavam muito do hocus pocus, que, originariamente, fazia parte do encanto hocus pocus, toutous talontus, vade celerita jubes. Assim como outros encantos pseudolatinos, as palavras não significavam nada, mas cria­vam uma atmosfera de mistério e eram usadas por inúmeros artistas performáticos.
A princípio, hocus pocus era uma frase usada pelos mágicos de espetáculo. Ao contrário de abracadabra, ela nunca aparece em amuletos ou livros de feitiços e sua origem é um mistério. Alguns historiadores atribuem sua origem a Ochus Bochus, o nome de um lendário mago italiano. Outra teoria cita o hocea pwca galês, que significa “o truque do duende”. Também já foi sugerido que hocus pocus tem uma relação com a frase em latim hoc est corpus meum (“este é o meu corpo”), da missa católica. Muitos estudiosos, no entanto, consideram a idéia imprová­vel porque os mágicos plebeus não iriam correr o risco de ofender a Igreja - cuja oposição a qualquer tipo de magia era notória - usando “palavras mágicas” retiradas de uma cerimô­nia sagrada. Pode-se dizer, com certeza, que hocus pocus já havia se tornado popular no início de século XVII. O dra­maturgo inglês Ben Johnson fez referência a um mágico de espetáculos que se chamava Hokus Pokus em 1625, e a palavra também aparece no título de um dos primeiros livros do tipo “faça você mesmo” para mágicos, chamado Hocus Pocus Junior e publicado em 1634. Hoje, muitos mágicos abandonaram por completo o uso de palavras mágicas e, em inglês, hocus pocus passou a significar, no sentido mais amplo, truque ou fraude. Talvez ela seja também a raiz da palavra inglesa hoax, que significa impostura.




Obter o resultado esperado, obviamente, não era tão fácil quanto copiar as palavras. Os quadrados tinham que ser inscritos nos materiais certos, sob a influência astrológica das estrelas e planetas certos, na época correta. Ainda assim os resultados não eram garantidos. Contudo, quando uma palavra ou quadrado mágico não funcionava, a culpa recaía sobre o praticante: ou ele estava pronunciando a palavra de forma incorreta, ou não estava suficientemente convicto, ou tinha esquecido alguma etapa importante. Por outro lado, quando um paciente se recuperava de uma doença, ou os demônios mantinham distância, a eficácia da palavra era comprovada.
A crença no poder das palavras mágicas não diminuiu muito com o passar dos séculos. A idéia de que “por favor” e “obrigado” dão resulta­dos mágicos ainda é ensinada às crianças (pelo menos em algumas cul­turas) e continua funcionando. Os universitários e profissionais da pro­paganda sabem que as palavras certas (que são chamadas de buzz words hoje em dia) geram boas notas e vendas espetaculares. As grandes cor­porações pagam dezenas de milhares de dólares a profissionais capazes de encontrar uma palavra ou nome “mágico” que colocará seu produto, ou elas próprias, na boca do povo - e lhes renderá uma fortuna.


Pedra Filosofal, 10






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