De onde essas palavras (mágicas) vieram e por que se
acreditava que elas funcionavam ninguém sabe. Com certeza, algumas foram
inventadas por mágicos praticantes para impressionar seus clientes.
Outras palavras mágicas, no entanto, parecem ter se originado há milhares de
anos, a partir dos nomes de deuses e seres sobrenaturais que foram adulterados
e mal traduzidos com o tempo, até se tornem irreconhecíveis.
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O poder de um mago está
nas palavras que ele conhece. As palavras são o fio que tece os feitiços e
sustenta os encantamentos e as maldições. Como histórias do mundo
inteiro podem confirmar, há palavras mágicas para todas as ocasiões — para
lançar um feitiço sobre um castelo, voar em um tapete, ficar invisível ou
convencer uma vassoura a fazer o jantar e limpar tudo depois. E claro, não
pode ser uma palavra qualquer. É necessário usar as palavras certas para cada
tarefa e, como o professor Flitwick recomenda sabiamente a seus alunos do
primeiro ano da aula de Feitiços, devem ser pronunciadas com extrema precisão.
Quando pronunciadas corretamente, funcionam automaticamente, como acender uma
lâmpada. Se forem ditas de forma errada, você pode acabar com três cabeças.
Muitas das palavras ensinadas em Hogwarts
vêm
do latim e significam exatamente o que parecem. Petrificus Totalus deixa
a vítima totalmente petrificada, enquanto riddikulus faz um bicho-papão,
antes amedrontador, parecer ridículo. Mas as palavras mágicas não precisam
significar coisa alguma. Um livro de feitiços medieval diz que a frase saritap
pernisox ottarim, sem nenhum sentido, abre qualquer fechadura, enquanto onaim
peranties rasonastos conduz a pessoa até tesouros enterrados. Já agidem
margidem sturgidem cura a dor de dente, contando que seja pronunciada sete
vezes, numa terça ou quinta-feira.
De onde essas palavras vieram e por que se
acreditava que elas funcionavam ninguém sabe. Com certeza, algumas foram
inventadas por mágicos praticantes para impressionar seus clientes.
Outras palavras mágicas, no entanto, parecem ter se originado há milhares de
anos, a partir dos nomes de deuses e seres sobrenaturais que foram adulterados
e mal traduzidos com o tempo, até se tornem irreconhecíveis.
Mesmo sem ter um significado aparente,
acreditava-se que as palavras tinham um poder extraordinário
e que podiam realizar os desejos do mágico. Na verdade, a crença de que as
palavras são instrumentos de poder é, provavelmente, tão antiga quanto a própria
linguagem e uma das crenças mais antigas é que, se você disser alguma coisa,
ela se tornará realidade.
Uma seqüência de palavras mágicas, principalmente
quando pronunciada de forma ritualística, é chamada de encanto, feitiço ou
fórmula mágica, e é usada com freqüência para lançar feitiços ou encantamentos.
Em muitas culturas tribais tradicionais, esses feitiços eram entoados ou
cantados e acompanhados por danças e batidas de tambores (as palavras “canto”, “encantar”,
“encantamento” e “encanto” possuem todas uma raiz latina que significa “canção”
ou “cantar”). Na Grécia e Roma antigas, os bruxos com freqüência lançavam seus
feitiços com lamúrios ou gritos, como um cachorro uivando para a lua. Em certas
tradições hindus e budistas, poderes extraordinários eram associados à
repetição de seqüências de palavras ou frases chamadas mantras, que eram
sagradas e só podiam ser ensinadas por um professor especial ou um guru. Havia
um mantra que supostamente dava ao entoador o poder de controlar a natureza se
repetido 200.000 vezes, e de se transportar instantaneamente para qualquer
lugar do universo se repetido um milhão de vezes.
Abracadabra, a mais conhecida de todas as palavras mágicas,
foi considerada durante séculos extremamente poderosa. Ela apareceu pela
primeira vez no livro Res Reconditae (Assuntos secretos), escrito por
Serenus Sammonicus, um médico romano que viveu no século III. Serenus
prescreve abracadabra como cura para a febre terçã, uma doença terrível,
parecida com uma gripe, cujos sintomas ocorrem a cada três dias. A palavra pode
ser pronunciada, mas, segundo Serenus, o tratamento é mais eficaz quando abracadabra
é escrita em um pedaço de pergaminho, na forma de um triângulo invertido, e
pendurada no pescoço como um amuleto.
À
medida que a palavra abracadabra diminui, retirando uma letra cada vez
que é escrita, a doença do paciente também diminui. Depois de nove dias, o
amuleto deveria ser retirado e jogado por cima do ombro em um rio que corresse
para o leste, concluindo o tratamento.
Abracadabra continuou sendo usada como uma palavra mágica
até o século XVII. No livro Diário do Ano da Peste (1722),
o romancista inglês Daniel Defoe conta que muitos londrinos tentaram se
proteger contra a epidemia de peste bubônica de 1665 usando “certas palavras e
imagens, principalmente a palavra 'abracadabra' formando um triângulo ou
pirâmide”.
Algumas das mais poderosas palavras mágicas
da Idade Média eram escritas na forma de palíndromos - palavras ou frases que
têm o mesmo sentido lidas de trás para a frente ou de frente para trás.
Especialmente fascinantes eram as palavras com as quais se podia formar um “quadrado
mágico” no qual podiam ser lidas da mesma forma de cima para baixo, de baixo
para cima, da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita. O mais
conhecido, que remonta ao século XVIII, é o quadrado formado com o palíndromo sator
arepo tenet opera rotas.
Não se sabe o significado dessas palavras,
mas, de acordo com vários livros de magia, esse quadrado tinha, pelo menos,
três propriedades notáveis: era um detector de bruxas confiável
(qualquer bruxa que ficasse no mesmo cômodo que ele seria obrigada a fugir);
servia de amuleto contra bruxaria e doenças; e, se escrito em uma placa de
madeira e deixado ao alcance, funcionava como um extintor de incêndio quando
jogado em uma casa em chamas! Outros quadrados mágicos, tais como aqueles
recomendados no livro de magia The sacred Magic of Abremelin the Mage (A
mágica sagrada de Abremelin, o Mago), eram compostos por palíndromos como odac
dara arad cado, que fazia a pessoa voar “como um abutre” (um outro
palíndromo era proposto para aqueles que preferiam voar “como um corvo”) e milon
irago lamal ogari nolim que, se fosse inscrito em um pergaminho e segurado
sobre a cabeça de uma pessoa, lhe dava o conhecimento de todas as coisas
passadas, presentes e futuras, como se um demônio as estivesse sussurrando em
seu ouvido.
HOCUS
POCUS
Em um lugar, pelo menos, as palavras mágicas
sempre parecem funcionar - nas apresentações dos mágicos. Os ilusionistas do
século XVII gostavam muito do hocus pocus, que,
originariamente, fazia parte do encanto hocus pocus, toutous talontus, vade
celerita jubes. Assim como outros encantos pseudolatinos, as palavras não
significavam nada, mas criavam uma atmosfera de mistério e eram usadas por
inúmeros artistas performáticos.
A princípio, hocus pocus era uma frase
usada pelos mágicos de espetáculo. Ao contrário de abracadabra, ela
nunca aparece em amuletos ou livros de feitiços e sua origem é um mistério.
Alguns historiadores atribuem sua origem a Ochus Bochus, o nome de um
lendário mago italiano. Outra teoria cita o hocea pwca galês, que
significa “o truque do duende”. Também já foi sugerido que hocus pocus tem
uma relação com a frase em latim hoc est corpus meum (“este é o meu
corpo”), da missa católica. Muitos estudiosos, no entanto, consideram a idéia
improvável porque os mágicos plebeus não iriam correr o risco de ofender a
Igreja - cuja oposição a qualquer tipo de magia era notória - usando “palavras
mágicas” retiradas de uma cerimônia sagrada. Pode-se dizer, com certeza, que hocus
pocus já havia se tornado popular no início de século XVII. O
dramaturgo inglês Ben Johnson fez referência a um mágico de espetáculos que se
chamava Hokus Pokus em 1625, e a palavra também aparece no título de um
dos primeiros livros do tipo “faça você mesmo” para mágicos, chamado Hocus
Pocus Junior e publicado em 1634. Hoje, muitos mágicos abandonaram por
completo o uso de palavras mágicas e, em inglês, hocus pocus passou a
significar, no sentido mais amplo, truque ou fraude. Talvez ela seja também a
raiz da palavra inglesa hoax, que significa impostura.
Obter o resultado esperado, obviamente, não
era tão fácil quanto copiar as palavras. Os quadrados tinham que ser inscritos nos
materiais certos, sob a influência astrológica das estrelas e planetas certos,
na época correta. Ainda assim os resultados não eram garantidos. Contudo,
quando uma palavra ou quadrado mágico não funcionava, a culpa recaía sobre o
praticante: ou ele estava pronunciando a palavra de forma incorreta, ou não estava
suficientemente convicto, ou tinha esquecido alguma etapa importante. Por outro
lado, quando um paciente se recuperava de uma doença, ou os demônios mantinham
distância, a eficácia da palavra era comprovada.
A crença no poder das palavras mágicas não
diminuiu muito com o passar dos séculos. A idéia de que “por favor” e “obrigado”
dão resultados mágicos ainda é ensinada às crianças (pelo menos em algumas culturas)
e continua funcionando. Os universitários e profissionais da propaganda sabem
que as palavras certas (que são chamadas de buzz words hoje em dia)
geram boas notas e vendas espetaculares. As grandes corporações pagam dezenas
de milhares de dólares a profissionais capazes de encontrar uma palavra ou nome
“mágico” que colocará seu produto, ou elas próprias, na boca do povo - e lhes
renderá uma fortuna.
Pedra Filosofal, 10
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