terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O MANUAL DO BRUXO - ALLAN ZOLA KRONZEK - 64







     A lenda da Pedra Filosofal surgiu com a alquimia, uma arte antiga fun­dada em Alexandria, Egito, por volta do século I, que se dedicava a trans­formar metais comuns em prata ou ouro. Seus criadores imaginaram a alquimia (...) como um processo científico que utilizava fornalhas, substâncias químicas e instru­mentos de laboratório. 



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Durante séculos, a lendária substância mágica conhecida como Pedra Filosofal (em inglês ela também é chamada de Sorcerer's Stone, que significa “Pedra do Bruxo”) incorporou dois dos maiores so­nhos da espécie humana: vida eterna e riqueza infinita. Lord Voldemort queria roubar a Pedra de Hogwarts e usá-la para recuperar sua força e espalhar a magia negra pelo mundo. Inúmeros outros personagens, tanto fictícios quanto reais, buscaram a Pedra para fazer ouro ou para fabricar o Elixir da Vida, uma poção que tornaria imortal quem a tomasse.


A alquimia era um trabalho de busca extremamente árduo ao longo do qual
muitas coisas podiam dar errado. Esses alquimistas do século XVI
parecem mais atarantados que iluminados.

A lenda da Pedra Filosofal surgiu com a alquimia, uma arte antiga fun­dada em Alexandria, Egito, por volta do século I, que se dedicava a trans­formar metais comuns em prata ou ouro. Seus criadores imaginaram a alquimia (do grego kemeia, que significa “transmutação”) como um processo científico que utilizava fornalhas, substâncias químicas e instru­mentos de laboratório. Dentro disso entravam, chumbo, estanho e mer­cúrio, entre outros metais para que, depois de uma série de operações secretas, saísse ouro. O fato de isso ser impossível (as leis da física naquela época eram as mesmas de hoje) não impedia que os primeiros alquimistas acreditassem ter obtido sucesso. Eles eram, na verdade, espe­cialistas em colorir metais e em produzir ligas que se pareciam com ouro, continham um pouco de ouro e, pelo visto, passavam por ouro puro.
Nos séculos que se seguiram, o conhecimento da alquimia foi preser­vado e desenvolvido no mundo árabe, e acabou chegando à Europa medieval por volta de 1200, quando os trabalhos dos alquimistas árabes foram traduzidos para o latim. Esses manuscritos, repletos de fórmulas complexas e descrições de instrumentos de laboratório até então desconhecidos, surgiram como uma revelação para os estudiosos e ecle­siásticos que os leram.
Ao que parece, uma forma de produzir uma riqueza fabulosa já exis­tia há mais de mil anos e as mentes mais brilhantes da Europa não sabiam nada a seu respeito. Agora, contudo, aparentemente o método havia sido encontrado.
A atração da alquimia era irresistível. No final do século XIV ela já brotava por toda a Europa Ocidental. A maioria das pessoas já tinha ouvido falar dela e havia centenas, se não milhares, de praticantes. Uma nova idéia havia surgido. Em vez de tentar transformar metais inferiores diretamente em ouro, como os primeiros alquimistas faziam, os alqui­mistas da Idade Média, como Nicholas Flamel, falavam agora em pro­duzir uma nova substância — um catalisador extremamente poderoso que, quando adicionado a metais comuns, desencadeava sua transmu­tação em ouro. Essa nova substância ficou conhecida como a Pedra Filosofal. À medida que aumentavam as lendas sobre ela, também aumentava seu poder: ela passou a ser capaz de curar doenças e de pro­longar a vida indefinidamente.
Apesar de a Pedra ser, de acordo com algumas definições, uma subs­tância mágica, acreditava-se que tinha origens inteiramente naturais e, por isso, em teoria, podia ser fabricada por qualquer pessoa. Mas isso não significa que era fácil fabricá-la. Os manuscritos com as instruções dos alquimistas eram difíceis de encontrar e ainda mais difíceis de enten­der. Não só estavam escritos em latim (que apenas o clero e as pessoas cultas eram capazes de ler), como também, para impedir que os segre­dos sobre transmutação caíssem nas mãos erradas, os escritores alquí­micos escreviam de forma deliberadamente obscura, que mais parecia um código secreto. Por exemplo, em vez de usar o termo comum aqua regia para a mistura de ácidos nítrico e clorídrico, os alquimistas usavam “O Dragão Verde”. O chumbo era conhecido como “O Corvo Negro”. Uma vez terminado o processo de decifrar esses documentos, era preciso obter fornalhas, metais, substâncias químicas e vidrarias para poder mon­tar um laboratório alquímico. Era necessária também, é claro, paciência para passar meses ou até mesmo anos em busca dessa Pedra tão difícil de encontrar. Apesar disso, muitos alquimistas estavam prontos a devotar grande parte de suas vidas a essa tarefa. A alquimia era vista como uma busca tanto espiritual quanto material, e muitos alquimistas acreditavam que, contanto que permanecessem concentrados em seu trabalho, tam­bém eles se transformariam em “ouro”, tornando-se um “ser superior”.
Com a crença na Pedra tão difundida, era de se esperar que vigaristas atrevidos criassem uma variedade de esquemas do tipo “fique rico rápi­do” para roubar as economias dos alquimistas novatos. Esses tratantes usavam dispositivos mecânicos e truques de prestidigitação para fazer parecer que estavam transformando mercúrio em ouro. Depois vendiam as pedras que supostamente tinham causado a transformação (e, às vezes, também os equipamentos do laboratório e as substâncias quími­cas) para o ingênuo comprador. Ao mesmo tempo, tanto os vigaristas quanto os alquimistas de verdade corriam grande perigo ao afirmar que possuíam a pedra, pois podiam se tornar vítimas de ladrões. Por esta razão, a maioria dos alquimistas agia em segredo.
A alquimia continuou sendo um empreendimento sério até o final do século XVII, quando suas teorias foram substituídas pelas teorias mais fundamentadas da química moderna. Apesar de nunca terem percebido que seus objetivos eram impossíveis, os alquimistas acabaram desco-
brindo muitas substâncias químicas úteis para a ciência e a medicina. Além disso, inventaram técnicas de laboratório básicas e projetaram quase todos os instrumentos químicos usados até metade do século XVII.


Pedra Filosofal, 13



A CRIAÇÃO DA PEDRA
A TEORIA POR TRÁS DA ALQUIMIA

Ainda que os objetivos da alquimia pareçam impossíveis para a mentalidade moderna, para os praticantes da antigui­dade e da Idade Média a alquimia era perfeitamente razoá­vel. De acordo com as teorias dos primeiros filósofos gregos, as quais eram bastante difundidas até o surgimento da ciên­cia moderna, tudo no mundo físico é composto por uma subs­tância essencial chamada de “substância primeira”. A substân­cia primeira podia apresentar diferentes particularidades e características, mas, no fundo, havia apenas uma “coisa” bási­ca. Além disso, acreditava-se que todas as substâncias ti­nham vida. Metais e minerais, assim como plantas e animais, continham um “espírito universal”, ou força motriz, que os antigos filósofos chamavam de pneuma (do grego, “respi­ração ou vento”).
Levando-se em consideração essa compreensão do mundo físico, os alquimistas não viam motivo pelo qual não pudessem pegar metais comuns, como ferro ou estanho, reduzi-los à condição de substância primeira (derretendo-os em fornalhas e tratando-os com ácidos e reagentes) e, depois, fazer a substância primeira se reconstituir sob a forma de ouro. Os alquimistas da Grécia e Egito antigos acreditavam que a transformação era desencadeada ao adicionar uma pequena quantidade de ouro de verdade à mistura, na qual ele agiria como uma semente e, estando vivo, tornava-se uma quanti­dade maior de ouro, usando a substância primeira como nutriente. Os alquimistas medievais, por outro lado, acredi­tavam que conforme aqueciam suas misturas, a pneuma contida nelas era liberada sob a forma de um gás que, junto com ou­tros vapores, podia ser capturado em destiladores e conver­tido para a forma líquida. Purificando e destilando esse líqui­do centenas de vezes - até mesmo durante anos —, os alqui­mistas acreditavam que, no fim, acabariam com uma essência de pneuma extraordinariamente poderosa, pura e concentrada. Essa era a célebre Pedra Filosofal. Quando adicionada à subs­tância primeira, ela fazia, pelo menos em teoria, a substância se transformar em sua forma mais perfeita, o ouro. Consumida sob a forma de elixir, sendo a essência da força motriz, ela curaria qualquer doença e levaria à vida eterna.



A FALSIFICAÇÃO DA PEDRA
AS FRAUDES NA ALQUIMIA

Uma demonstração clara de criação de ouro era a melhor forma que os alquimistas tinham de provar que possuíam um exemplar genuíno da Pedra Filosofal. Muitas falsificações engenhosas foram projetadas com esse propósito, mas o método mais convincente permitia que o futuro comprador realmente visse a transmutação acontecendo. Isto não era tão difícil quanto pode nos parecer. Uma demonstração que impressionava bastante, sem dúvida encenada em algum la­boratório provisório e distante, funcionava assim:
O falso alquimista despejava uma pequena quantidade de mercúrio em um cadinho (uma tigela usada para derreter metais) que era aquecido em uma fornalha. Com um floreio dramático, ele mostrava, então, um pequeno tubo de pó ver­melho, que era a suposta Pedra Filosofal. Adicionando uma pequena pitada ao mercúrio - do tamanho de uma cabeça de alfinete -, ele mexia a mistura e continuava aquecendo-a. Enquanto muitos processos alquímicos levavam semanas ou meses para se completar, esse levava apenas alguns minutos. Logo era possível ver o mercúrio mudando de cor, do pratea­do para o dourado. Quando retirada do fogo e deixada para esfriar, a mistura se solidificava sob a forma de uma pepita. O surpreendente é que qualquer pessoa perita no assunto diria que a nova substância não era só parecida com ouro — era ouro!
O segredo dessa aparente transmutação envolvia uma combinação engenhosa de química com enganação. A quí­mica estava no fato de o mercúrio ter um ponto de ebulição muito mais baixo que o ouro. O fingimento estava na vare­ta, aparentemente inocente, usada para misturar os ingre­dientes. Apesar de parecer um pedaço sólido de metal preto, ela era, na verdade, um tubo dentro do qual o vigarista havia colocado previamente uma pequena quantidade de ouro em pó. Uma tampa de cera escura lacrava a abertura da vareta e mantinha o ouro no lugar. Enquanto o mercúrio era aqueci­do e mexido, a cera ia derretendo, deixando o ouro escorrer devagar para dentro do cadinho, onde se misturava ao mer­cúrio. A medida que o calor aumentava, o mercúrio evapo­rava no interior da fornalha, deixando para trás o ouro e, talvez, um vestígio da “Pedra”, que podia ser apenas um pedaço de giz colorido. A Pedra era, então, vendida a um preço bastante alto, e o falso alquimista fugia da cidade.








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