A lenda da Pedra Filosofal surgiu com a alquimia, uma arte antiga fundada
em Alexandria, Egito, por volta do século I, que se
dedicava a transformar metais comuns em prata ou ouro. Seus criadores
imaginaram a alquimia (...)
como um processo científico que utilizava fornalhas, substâncias químicas e
instrumentos de laboratório.
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Durante séculos, a lendária
substância mágica conhecida como Pedra Filosofal (em inglês ela também é chamada
de Sorcerer's Stone, que significa “Pedra do Bruxo”) incorporou dois dos
maiores sonhos da espécie humana: vida eterna e riqueza infinita. Lord
Voldemort queria roubar a Pedra de Hogwarts e usá-la para recuperar sua força e
espalhar a magia negra pelo mundo. Inúmeros outros personagens, tanto fictícios
quanto reais, buscaram a Pedra para fazer ouro ou para fabricar o Elixir da
Vida, uma poção que tornaria imortal quem a tomasse.
A
alquimia era um trabalho de busca extremamente árduo
ao longo do qual
muitas
coisas podiam dar errado. Esses alquimistas do século
XVI
parecem mais atarantados que iluminados.
A lenda da Pedra Filosofal surgiu com a
alquimia, uma arte antiga fundada em Alexandria, Egito, por volta do século
I, que
se dedicava a transformar metais comuns em prata ou ouro. Seus criadores
imaginaram a alquimia (do grego kemeia,
que significa “transmutação”) como um processo científico que
utilizava fornalhas, substâncias químicas e instrumentos de laboratório.
Dentro disso entravam, chumbo, estanho e mercúrio, entre outros metais para
que, depois de uma série de operações secretas, saísse ouro. O fato de isso ser
impossível (as leis da física naquela época eram as mesmas de hoje) não impedia
que os primeiros alquimistas acreditassem ter obtido sucesso. Eles eram, na
verdade, especialistas em colorir metais e em produzir ligas que se pareciam
com ouro, continham um pouco de ouro e, pelo visto, passavam por ouro puro.
Nos séculos que se seguiram, o conhecimento da
alquimia foi preservado e desenvolvido no mundo árabe, e acabou chegando à
Europa medieval por volta de 1200, quando os trabalhos dos alquimistas árabes
foram traduzidos para o latim. Esses manuscritos, repletos de fórmulas
complexas e descrições de instrumentos de laboratório até então desconhecidos,
surgiram como uma revelação para os estudiosos e eclesiásticos que os leram.
Ao que parece, uma forma de produzir uma
riqueza fabulosa já existia há mais de mil anos e as mentes
mais brilhantes da Europa não sabiam nada a seu respeito. Agora, contudo,
aparentemente o método havia sido encontrado.
A atração da alquimia era irresistível. No final
do século XIV ela já brotava por toda a Europa
Ocidental. A maioria das pessoas já tinha ouvido falar dela e havia centenas,
se não milhares, de praticantes. Uma nova idéia havia surgido. Em vez de tentar
transformar metais inferiores diretamente em ouro, como os primeiros
alquimistas faziam, os alquimistas da Idade Média, como Nicholas Flamel, falavam
agora em produzir uma nova substância — um catalisador extremamente poderoso
que, quando adicionado a metais comuns, desencadeava sua transmutação em ouro.
Essa nova substância ficou conhecida como a Pedra Filosofal. À medida que
aumentavam as lendas sobre ela, também aumentava seu poder: ela passou a ser
capaz de curar doenças e de prolongar a vida indefinidamente.
Apesar de a Pedra ser, de acordo com
algumas definições, uma substância mágica, acreditava-se que tinha
origens inteiramente naturais e, por isso, em teoria, podia ser fabricada por qualquer pessoa. Mas isso não
significa que era fácil fabricá-la. Os manuscritos com as instruções dos
alquimistas eram difíceis de encontrar e ainda mais difíceis de entender. Não
só estavam escritos em latim (que apenas o clero e as pessoas cultas eram
capazes de ler), como também, para impedir que os segredos sobre transmutação
caíssem nas mãos erradas, os escritores alquímicos escreviam de forma
deliberadamente obscura, que mais parecia um código secreto. Por exemplo, em
vez de usar o termo comum aqua regia para a mistura de ácidos nítrico e
clorídrico, os alquimistas usavam “O Dragão Verde”. O chumbo era conhecido como
“O Corvo Negro”. Uma vez terminado o processo de decifrar esses documentos, era
preciso obter fornalhas, metais, substâncias químicas e vidrarias para poder
montar um laboratório alquímico. Era necessária também, é claro, paciência
para passar meses ou até mesmo anos em busca dessa Pedra tão difícil de
encontrar. Apesar disso, muitos alquimistas estavam prontos a devotar grande
parte de suas vidas a essa tarefa. A alquimia era vista como uma busca tanto
espiritual quanto material, e muitos alquimistas acreditavam que, contanto que
permanecessem concentrados em seu trabalho, também eles se transformariam em “ouro”,
tornando-se um “ser superior”.
Com a crença na Pedra tão
difundida, era de se esperar que vigaristas atrevidos criassem uma variedade de
esquemas do tipo “fique rico rápido” para roubar as economias dos alquimistas
novatos. Esses tratantes usavam dispositivos mecânicos e truques de
prestidigitação para fazer parecer que estavam transformando mercúrio em ouro.
Depois vendiam as pedras que supostamente tinham causado a transformação (e, às
vezes, também os equipamentos do laboratório e as substâncias químicas) para o
ingênuo comprador. Ao mesmo tempo, tanto os vigaristas quanto os alquimistas de
verdade corriam grande perigo ao afirmar que possuíam a pedra, pois podiam se
tornar vítimas de ladrões. Por esta razão, a maioria dos alquimistas agia em
segredo.
A alquimia continuou sendo um
empreendimento sério até o final do século XVII, quando
suas teorias foram substituídas pelas teorias mais fundamentadas da química
moderna. Apesar de nunca terem percebido que seus objetivos eram impossíveis,
os alquimistas acabaram desco-
brindo muitas substâncias
químicas úteis para a ciência e a medicina. Além disso, inventaram técnicas de
laboratório básicas e projetaram quase todos os instrumentos químicos usados
até metade do século XVII.
Pedra Filosofal, 13
A TEORIA POR TRÁS DA ALQUIMIA
Ainda que os objetivos da alquimia pareçam
impossíveis para a mentalidade moderna, para os praticantes da antiguidade e
da Idade Média a alquimia era perfeitamente razoável. De acordo com as
teorias dos primeiros filósofos gregos, as quais eram bastante difundidas até o
surgimento da ciência moderna, tudo no mundo físico é composto por uma substância
essencial chamada de “substância primeira”. A substância primeira podia
apresentar diferentes particularidades e características, mas, no fundo, havia
apenas uma “coisa” básica. Além disso, acreditava-se que todas as substâncias
tinham vida. Metais e minerais, assim como plantas e animais, continham um “espírito
universal”, ou força motriz, que os antigos filósofos chamavam de pneuma (do
grego, “respiração ou vento”).
Levando-se em consideração
essa compreensão do mundo físico, os alquimistas não viam motivo pelo qual não
pudessem pegar metais comuns, como ferro ou estanho, reduzi-los à condição de
substância primeira (derretendo-os em fornalhas e tratando-os com ácidos e
reagentes) e, depois, fazer a
substância
primeira se reconstituir sob a forma de ouro. Os alquimistas da Grécia e Egito
antigos acreditavam que a transformação era desencadeada ao adicionar uma
pequena quantidade de ouro de verdade à mistura, na qual ele agiria como uma
semente e, estando vivo, tornava-se uma quantidade maior de ouro, usando a
substância primeira como nutriente. Os alquimistas medievais, por outro lado,
acreditavam que conforme aqueciam suas misturas, a pneuma contida nelas
era liberada sob a forma de um gás que, junto com outros vapores, podia ser
capturado em destiladores e convertido para a forma líquida. Purificando e
destilando esse líquido centenas de vezes - até mesmo durante anos —, os alquimistas
acreditavam que, no fim, acabariam com uma essência de pneuma extraordinariamente
poderosa, pura e concentrada. Essa era a célebre Pedra Filosofal. Quando
adicionada à substância primeira, ela fazia, pelo menos em teoria, a
substância se transformar em sua forma mais perfeita, o ouro. Consumida sob a
forma de elixir, sendo a essência da força motriz, ela curaria qualquer doença
e levaria à vida eterna.
AS FRAUDES NA ALQUIMIA
Uma demonstração
clara de criação de ouro era a melhor forma que os alquimistas tinham de provar
que possuíam um exemplar genuíno da Pedra Filosofal. Muitas falsificações
engenhosas foram projetadas com esse propósito, mas o método mais convincente
permitia que o futuro comprador realmente visse a transmutação acontecendo.
Isto não era tão difícil quanto pode nos parecer. Uma demonstração que
impressionava bastante, sem dúvida encenada em algum laboratório provisório e
distante, funcionava assim:
O falso alquimista despejava uma pequena
quantidade de mercúrio em um cadinho (uma tigela usada para
derreter metais) que era aquecido em uma fornalha. Com um floreio dramático,
ele mostrava, então, um pequeno tubo de pó vermelho, que era a suposta Pedra
Filosofal. Adicionando uma pequena pitada ao mercúrio - do tamanho de uma
cabeça de alfinete -, ele mexia a mistura e continuava aquecendo-a. Enquanto
muitos processos alquímicos levavam semanas ou meses para se completar, esse
levava apenas alguns minutos. Logo era possível ver o mercúrio mudando de cor,
do prateado para o dourado. Quando retirada do fogo e deixada para esfriar, a
mistura se solidificava sob a forma de uma pepita. O surpreendente é que
qualquer pessoa perita no assunto diria que a nova substância não era só
parecida com ouro — era ouro!
O segredo dessa aparente transmutação
envolvia uma combinação engenhosa de química com enganação. A química estava
no fato de o mercúrio ter um ponto de ebulição muito mais baixo que o ouro. O
fingimento estava na vareta, aparentemente inocente, usada para misturar os
ingredientes. Apesar de parecer um pedaço sólido de metal preto, ela era, na
verdade, um tubo dentro do qual o vigarista havia colocado previamente uma
pequena quantidade de ouro em pó. Uma tampa de cera escura lacrava a abertura
da vareta e mantinha o ouro no lugar. Enquanto o mercúrio era aquecido e
mexido, a cera ia derretendo, deixando o ouro escorrer devagar para dentro do
cadinho, onde se misturava ao mercúrio. A medida que o calor aumentava, o
mercúrio evaporava no interior da fornalha, deixando para trás o ouro e,
talvez, um vestígio da “Pedra”, que podia ser apenas um pedaço de giz colorido.
A Pedra era, então, vendida a um preço bastante alto, e o falso alquimista
fugia da cidade.
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