quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O MANUAL DO BRUXO - ALLAN ZOLA KRONZEK - 80








Poucos animais, reais ou imaginários, instigaram tanto a imaginação quanto o unicórnio. Desde que essa criatura com um só chifre foi descrita pela primeira vez pelo médico grego Ctésias, há mais de dois mil anos, muitas pessoas têm escrito a respeito, pintado, esculpido e caçado os unicórnios — e, ao mesmo tempo, questionado se eles existem mesmo ou não.



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Poucos animais, reais ou imaginários, instigaram tanto a imaginação quanto o unicórnio. Desde que essa criatura com um só chifre foi descrita pela primeira vez pelo médico grego Ctésias, há mais de dois mil anos, muitas pessoas têm escrito a respeito, pintado, esculpido e caçado os unicórnios - e, ao mesmo tempo, questionado se eles existem mesmo ou não.
Os unicórnios descritos na antigüidade possuem apenas uma pequena semelhança com as criaturas nobres, inocentes e puras que habitam a Floresta Proibida em Hogwarts. Segundo Ctésias, o unicórnio era nativo da Índia. Era mais ou menos do tamanho de um jumento, tinha uma cabeça vermelho-escuro, o corpo branco, olhos azuis, e um único chifre, de aproximadamente 45 centímetros, que brotava de sua testa. Branco na base, preto no meio e vermelho vivo na ponta, o chifre era extraordinário. Quando arrancado e transformado em cálice, protegia todos os que be­biam dele contra venenos, convulsões e epilepsia. Entretanto, não era fácil conseguir tais recipientes, já que a velocidade, a força e o temperamento indócil do unicórnio tornavam sua captura praticamente impossível.
Nos séculos seguintes, a crença nessa criatura evasiva cresceu, apesar de continuar não havendo provas de sua existência. Aristóteles e Júlio César descreveram animais com um chifre e eram citados como autori­dades no assunto. O naturalista romano Plínio o Velho acrescentou novos detalhes à aparência do unicórnio, dando-lhe uma cabeça de cervo, pés de elefante, cauda de javali e um chifre negro de noventa cen­tímetros. Alguns escritores sugeriram, mais tarde, que os primeiros regis­tros de unicórnios se basearam em descrições confusas do rinoceronte indiano, ou em visões de animais com dois chifres, como bodes ou cabritos monteses, que foram vistos de perfil ou tinham perdido um chifre. Plínio também confirmou a natureza violenta do unicórnio e disse que a fera emitia rugidos graves.
Na Idade Média, a imagem habitual do unicórnio evoluiu da colagem de partes de animais formada na antigüidade até a criatura graciosa que conhecemos hoje. Pinturas e tapeçarias desse período retratam um lindo animal branco, parecido com um cavalo, com um chifre espiralado de um branco puro e cascos fendidos como os de um cervo. Na literatura, o unicórnio passou a representar a força, o poder e a pureza. Ele foi incorporado ao simbolismo cristão e passou a fazer parte do brasão real da Inglaterra e da Escócia. Os unicórnios apareceram nas lendas do rei Artur, em contos de fadas, e em relatos romantizados das conquistas de Gengis Khan e de Alexandre o Grande.
Uma história medieval típica que dá ênfase à pureza do unicórnio conta que um grupo de animais da floresta foi até uma poça para matar a sede, mas a água estava envenenada. Os animais sedentos foram salvos quando um unicórnio apareceu e mergulhou seu chifre na água, fazendo com que ela se tornasse limpa e fresca. De acordo com outra história, o amor do unicórnio por tudo que é inocente e puro é tão grande que, quando ele encontra uma donzela sentada sob uma árvore, deita a cabeça em seu colo e dorme. Essa idéia agradava, e muito, as pessoas interessadas em capturar unicórnios para remover seu valioso chifre. A caça aos uni­córnios era uma atividade arriscada, já que havia rumores de que os animais podiam usar seu chifre como espada e, quando perseguidos, pulavam de pe­nhascos, aterrissando sobre o chifre e fugindo sem ferimentos. Um mé­todo mais seguro, portanto, ainda que menos valente, era usar uma don­zela virtuosa como isca. Quando o unicórnio adormecesse em seu colo, os caçadores que estavam aguardando podiam se aproximar e capturá-lo.


Durante os séculos XV e XVI, os viajantes europeus voltavam da Ásia, da África e das Américas com novos registros de aparições de unicórnios. Como as descrições eram diferentes, presumia-se que havia grande variedade desses animais.

O interesse em capturar unicórnios desapareceu no século XVIII, quando vários céticos ressaltaram que era impossível encontrar alguém que tivesse visto a criatura com os próprios olhos. Alguns escritores con­tinuaram incluindo os unicórnios em seus livros de história natural, copiando os relatos antigos e medievais, mas a maioria se convenceu de que era hora de relegar o animal ao mundo das fábulas. Isso não afetou o fascínio popular pelo unicórnio, que continua vivo até hoje nas artes plásticas, na literatura e na imaginação.


Cálice de Fogo, 24



TAPEADO

Tapear - Bras. Pop. 1. Enganar, iludir, burlar, lograr, embaçar.
Por mais impossível que fosse, no século XVI, encontrar alguém que tivesse visto um unicórnio, encontrar um chifre de unicórnio era bem mais fácil. Isso porque o chifre era vendido em todos os boticários (o equivalente das farmácias de hoje) como um remédio contra a maior parte das doenças e como proteção contra venenos. A demanda era grande e os preços altíssimos. Moído, o chifre - também conhecido como “alicorne” - podia ser tomado puro ou misturado a outros compostos medicinais. Aqueles que não podiam pagar o pre­cioso produto compravam um frasco de água onde o chifre de unicórnio havia, supostamente, sido mergulhado.
É claro que o produto vendido nos boticários não tinha sido tirado de unicórnios. Era a presa do narval, uma espécie de baleia dos mares árticos que possui um único chifre em espiral, o qual pode atingir quase três metros de comprimen­to. À medida que o número de expedições baleeiras aumen­tava nos séculos XVI e XVII, crescia também o fornecimento de supostos chifres de unicórnios. O número de testes para verificar a autenticidade do alicorne — a maioria consistia em colocar uma aranha perto do chifre e observar sua reação - era grande, mas, pelo visto, poucos detectavam chifres falsos, já que as presas de narval, vendidas como chifres de unicórnio, podiam ser encontradas em todas as lojas da Europa.
Nem todos os alicornes eram usados na medicina. O caráter lendário do cálice de chifre de unicórnio como neu­tralizador de venenos, relatado pela primeira vez por Ctésias mais de mil anos antes, fez com que eles continuassem sendo um bem extremamente valioso, principalmente entre a realeza, cujos membros conviviam diariamente com o medo de serem envenenados. Os cálices de alicorne eram tão valiosos que, em 1565, o rei Frederico II da Dinamarca usou apenas um como garantia de um empréstimo para financiar a guerra contra a Suécia.


Desenho, do século XVII, de um narval, a baleia dos mares árticos cuja presa espiralada era vendida a um preço alto como chifre de unicórnio. Estima-se que a população atual de narvais esteja entre 25.000 e 45.000 espécimes.







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